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ELES SÃO MUITOS

Por Alícia Brito

Só quem já perdeu alguém muito próximo entende o quanto um velório é triste. Seria mais triste ainda não poder velar os nossos. E essa é uma realidade tão atual, que está acontecendo agora mesmo enquanto escrevo.


Os que podem ficar no conforto de seu lar, que parece até ficar desconfortável depois de mais de 5 semanas, precisam escolher quanta informação são capazes de receber. Se estou bem assisto o jornal na hora do almoço, talvez até algum outro. Mas hoje talvez não seja um bom dia, então preciso dar um tempo de todas as redes sociais e evitar qualquer informação. Medo de ir ao mercado. Medo de estar infectado e infectar quem se ama.


Lá fora, eles são muitos, o número só cresce. Não se sabe ao certo quantos são, mas sabe-se que várias vezes mais do que se divulga e se provou. Números de vítimas passam a ser tão somente números. A gente torce pra que não aumente muito, que declinem o mais rápido possível. A verdade é que são vidas, pais e mães, avôs e avós, filhos amados e jovens sonhadores. Não apenas números, são pessoas como eu e como os meus.


Uma pandemia por si só já configura um cenário caótico o bastante. Mas duvidam disso. A cereja do bolo é uma crise política. Com direito a demissões, omissões e muita, muita sujeira. A situação é tão absurda que desvia a atenção, parece competir com os holofotes necessários que uma pandemia global requer. A instabilidade que tudo isso traz é tremenda. 

Enquanto isso ainda, a multidão de corpos amontoados e a agonia de quem sequer conseguiu chegar a um hospital aumenta. Aumenta também a agonia dos que não podem velar seus mortos (um verdadeiro privilégio nesse momento), das enormes covas abertas em cemitérios e despedidas abruptas. Asfixiante.


Tudo pode ser incerto agora, não nós. Há informação científica, há tecnologia - diferentemente de outros momentos pandêmicos que dizimaram tantas vidas no passado. 


Sendo assim, cuidemos de nós e dos nossos. E sejamos totalmente solidários, capazes de chorar com os que choram e ajudar os que não podem se ajudar agora. As ondas de solidariedade andam vibrando mais do que nunca nesses dias. Dias estes que jamais serão esquecidos não só por nós, mas por todo o universo.

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